Doutor Carlos e as Três Meninas
O meu grato reconhecimento à dona Clementina Ferreira Cadinha
Infelizmente, e no momento em que escrevo este testemunho, já não lhe o vou poder mostrar, como lhe tinha prometido, porque a perda de memória, dela nos atraiçoou.
Não decorreu muito tempo, mas lamentávelmente o sufuciente, para que tal viesse a aconter. Mas, como só se morre, quando deixamos de estar no coração de alguém. Fica a qui a intênção, e meu obrigado, a esta ilustre Senhora, que em tempo algum deixou de cantarolar os versos que decorou e a sua ligação ao Doutor Carlos, que prontamente se disponibilizou a dar-mos a conhecer, bem como o esse seu testemunho, mesmo que sabendo que nem o Dr. Carlos nem eu eramos, do Partido que ela pensava ser o melhor.
Dona Clementina disse.- Eramos três meninas que normalmente andavamos juntas; Quando viamos o Doutor montado no seu Cavalo, só se, não podessemos. é que não fugiamos, pois ele gostava de brincar, fazendo de conta que o animal nos ía atacar e nós tinhamos medo. Um dia estavamos as três e não nos apercebemos dele, quando demos fé, ele estava junto a nós.
Desceu do cavalo e disse:- Vocês são três lindas meninas,dirigindo-se à Maria do Costinha, Maria tu tens uns olhos muito lindos. És muito Bonita. Voltando-se para a Celeste do Gaspar:- Celeste, tens um Pucho maravilhoso, e que te fica muito bem, e te faz muito bonita. Finalmente virou-se para mim:- E tu Clementina; tens uma gargante de ouro, adoro-te ouvir cantar.
Estaria ele longe de imaginar, que durante mais de sessenta anos eu cantaria em todo o lado o Fado da Japoneira em sua homenagem a ele, e que agora te dou uma cópia e fico com outra.
Faz dela o que quizeres. Ele era um Santo.
Sabes o Doutor foi assassinado num sabado e no Domingo os sinos de luto não tocaram. Toda a gente estava muito doente pelo que tinham feito ao Doutor.
Vivia nas Alminhas (onde agora está o Monumento) a Maria da Vitória que era vúva, também a Ti Albertina de Avintes que fazia de parteira, colaboravam com o Doutor, ela foi mesmo parteira de muita gente, quando ele não podia vir por causa da PIDE. Ela foi parteira de muitas mulheres. Várias vezes foi interrogada, mas disse sempre que não sabia nada.
A mesma resposta dava o Bernardino que levava o correio ao sitio combinado e depois o Doutor vinha lá buscá-lo.
O Joaquim Oliveira Silva, filho do Ti Nicolau, levava pão frito, que lhe mandava a Irmã Inês Ferreira Soares e deixava nos Moinhos da Gaiteira que o Doutor depois lá vinha comer, ou então lhe íam levar.
Os moinhos pertenciam aos do Fome.
Fernando Fome e Ti Maria Olinda, ali ficava a comida que o Doutor depois vinha buscar.
Fernando Fome e Ti Isaura Costureira, filha do Ti Nicolau, colaboravam e quando alguém precisava dos serviços do Doutor vinham procurá-los, e eles depois lhe comunicavam , depois lá se deslocava ás suas casas.
Também o Jpoaquim Pexista que tinha a sua garagem de bicicletas ali junto á casa do Alvaro Madeireiro, conhecia todos os movimento, e se algum fosse estranho, mandava a mulher avisar o Doutor.
Os versos do Fado da Japoneira foram- lhes dados pelo professor Manuel de Oliveira Marques que os escreveu, que deu aulas em Nogueira da Regedoura e também em Espinho. Vive em Espinho, escreveu outras coisas respeitantes a Ferreira Soares e Joaquim Domingues Maia, mas infelizmente a doênça também lhe atraiçoou a memória, motivado por isso, um dia acabou por queimar os seus escritos.
Hoje não é possivel recuperar esse espólio.
A Esposa que até tem um livro publicado, a esposa sabia onde ele guardava os papeis, mas quando foi procurá-los já tinham sido queimados. Fica o registo.
Resta-me acrescentar:-
Foi uma honra, ter ouvido a Dona Clementina, e ter ficado contaminado pelo sentir do carinho e amor que ela durante uma vida nutriu pelo Doutor.
Este Joaquim Oliveira Silva, filho do Ti Nicolau, casado com a Luciana, "daí que mais tarde tenha herdado o apelido de Luciana aquela que abriu a Loja, onde hoje está implantada a Japoneira. que teve a mercearia nos altos Céus, onde hoje é o café Cá te Espero, chegou a ser fortemente espacando pela PIDE, para descobrir onde se encontrava escondido o Doutor, mas suportou sem abrir a boca.
Manteve toda a vida a sua opsição ao regime..
Este testemunho foi ainda me confirmado nomes pelo Senhor Belinha.
Que me disse ainda:- O Pai do Dr. Carlos sempre se deslocava a pé e vice-versa de Nogueira à estação de S. Paio de Oleiros, onde naquele tempo o caminhho era difícil e daí apanhava o comboi para a Vila da Feira.
A familia de Ferreira Soares teve um Cavalo Preto o Neptuno, que morreu depois de lhe terem dado muito milho e depois àgua acabou por inchar e morrer. Foi transportado num carro de bóis e, sepultado à entrada da Quinta, onde hoje se encoontra a casa da Angelina do Rabão. "Junto ao Monumento".
Para o substituir, adquiriram uma Égua branca, cujo nome lhe passaram a chamar simplesmente Égua.
Havia um automóvel que era pertença do Doutor Armando que quando se suicidou, segundo o que se sabe, o motivo seria por saber que padecia de uma doênça grave e incurável, que terá deixado o carro ao seu Irmão Doutor Fernando.
Um belo dia o Doutor Fernando, deixou-o destravado e desengatado, e ele começou a andar sózainho, correu e conseguiu pará-lo, então teve este desabafo: como é possivel um homem ter mais força que quatro cavalos juntos, que seriam os cavalos que o motor do carro tinha.
Estes dados foram-me cedidos pelo Senhor Belinha, hoje com 85 anos.
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